No post de hoje, trouxemos um admirador do futebol italiano, Fransuel. Torcedor da Juventus de Turim, Fransuel vai explicar o que foi a famosa Calciopoli, e apresentar o seu ponto de vista sobre esse polêmico assunto. Um texto bem interessante que vale a sua leitura.
Antes de começar as minhas considerações sobre o processo Calciopoli, precisamos entender primeiro o que foi o Calciopoli e porque ele aconteceu. Antes de 2006, a Inter não ganhava um Scudetto desde 1989. Nesse interval de tempo, Napoli, Sampdoria, Roma e Lazio venceram cada um 1 Scudetto. Juventus e Milan venceram os demais. Na Champions, Juventus e Milan chegaram a disputar uma final (2003) e a Inter, no seu auge econômico, inclusive com Ronaldo, conquistou apenas uma Copa Uefa. O contexto era esse.
As investigações do Calciopoli (acredite ser coincidência ou não), começaram logo após a morte de Gianni e Umberto Agnelli, presidente e seu irmão respectivamente. Sem os dois grandes homens que conduziam o clube, começaram as investigações através de escutas telefônicas. Todos os arquivos e recursos foram providos na época pela Telecom Italia, de propriedade do senhor Massimo Moratti, presidente da Inter. Diga-se de passagem, nas primeiras divulgações das conversas, não foi aberto processo legal por se tratar de escutas ilegais (espionagem). Após a Gazzetta Dello Sport republicar os artigos, a FIGC foi “obrigada” a abrir um processo para investigar o caso.
Uma das grandes controvérsias de toda essa história, é que algumas interceptações telefônicas foram colocadas de fora do processo por “não serem relevantes”. Na época, a acusação afirmou ter um DVD que provava que a escolha dos árbitros era manipulada, outra prova que jamais apareceu nos tribunais (na verdade o que apareceu foi um print bem mal tirado que nunca disse muita coisa).
O resultado do inquérito ficou pronto no final da temporada 2005-06, e mostrava um grupo de dirigentes conversando com o designador de árbitros da FIGC. Pra quem não sabe, na Itália, os árbitros não são sorteados, mas escolhidos por um designador. As conversas seriam para que fossem escolhidos árbitros que seriam mais “favoráveis” a time A ou B. Dentre os clubes processados, os principais são: Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio. Como as escutas eram da temporada anterior, os clubes foram punidos nos dois campeonatos: 2005 e 2006.
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Os quatro clubes punidos |
Em um dos depoimentos, o designador de árbitros chegou a dizer que “gente de todos os clubes” ligavam pra ele, não apenas os 4 principais envolvidos. Os árbitros citados foram todos afastados, assim como Luciano Moggi (pivô do Calciopoli) e Antonio Giraudo, ambos diretores da chamada “Tríade” Juventina.
Agora você pergunta: Porque apenas a Juventus foi rebaixada? Bom, a acusação bancou a idéia de que a Juventus diretamente manipulava a tabela de classificação, além de influenciar na escolha de árbitros. O presidente da FIGC na época era ninguém menos que Adriano Galliani, vice presidente do Milan. O que torna difícil uma pena mais severa pro próprio clube. Fiorentina e Lazio não tem tanta influência política quanto tem Milan e Juventus nem no processo nem na FIGC, então eles foram punidos apenas com retirada de pontos.
Com as penalizações, a Juventus foi pra Serie B com -9 pontos. Milan, Fiorentina e Lazio continuaram na Serie A com penalização de pontos. A Inter foi declarada campeã da temporada 2005/06 após a retirada dos pontos. A UEFA aplicou as mesmas punições da FIGC e proibiu a Juventus de participar de todas as competições européias por 2 anos. Sem Gianni e Umberto Agnelli na época, o clube decidiu não se defender das acusações, pois politicamente falando, estava num momento muito frágil a nível de società.
- Reviravolta no Processo Calciopoli
Em 2010, após a chegada do presidente Andrea Agnelli na Juventus, o processo foi revisto após contestação das provas apresentadas. O clube peitou a FIGC e bancou que algo não estava “fechando” no processo. O resultado: o clube foi declarado inocente no processo por falta de provas consistentes e todos os árbitros foram absolvidos. Não tiveram a mesma sorte Moggi e Giraudo: considerados responsáveis diretos pelo Calciopoli, eles continuam banidos do futebol.
Após a absorvição, a Juventus entrou com o pedido de revisão da decisão de dar o Scudetto da temporada 2005/06 para a Inter. Porém, a FIGC se julgou “incompetente” para decidir sobre o caso. A mesma federação que demorou poucos meses pra decidir dar o Scudetto a Inter, anos depois se julgou incompetente sobre o caso. Mas as investigações não pararam por aí. Após o surgimento de novas provas, incluindo as antigas escutas telefônicas, descobriu-se que a Inter tinha sim dedo no escândalo, porém como haviam passado 5 anos do ocorrido, o clube não pode ser processado graças à prescrição.
Com a negativa da FIGC em devolver o Scudetto para a Juventus, o clube bianconero entrou com um processo contra a federação, no valor de 444 milhões de Euros, referentes aos danos sofridos pelo clube no processo Calciopoli. O processo será julgado em 2014.
- Qual a conclusão nisso tudo?
Primeiramente, existe mais armação e fantasia nessa história toda do que a gente pode imaginar. Segundo, onde há dinheiro, há corrupção. Não adianta sermos romanticos e falar que a Juventus nunca usou operações ilegais na era Moggi. Nem a Juventus nem nenhum clube de ponta (aliás nem precisa ser de ponta) pra saber que rola corrupção em todos os níveis do futebol. Desde jogadores, reporteres e dirigentes. É um negócio que rola muito dinheiro, e onde tem dinheiro rola de tudo. Terceiro, que a não resta dúvidas de que Calciopoli foi um projeto arquitetado pelo senhor Massimo Moratti, que só pode ver a sua Inter levantando troféus com Juventus e Milan por baixo graças a justiça.
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Moggi foi considerado um dos responsáveis |
Para mais informações e caso discorde de algumas das infos postadas aqui, não tenha preguiça de procurar na internet. Você vai achar muito mais do que foi escrito aqui, e poderá, com mais propriedade, tirar suas próprias conclusões.
Texto de: Fransuel Nascimento